sábado, 15 de abril de 2017

Pitágoras

Pitágoras terá nascido cerca de 572 a.C. e terá perecido por volta de 497 a.C. Filósofo e matemático grego natural de Samos, fundou uma comunidade que seguiu a sua doutrina. Foi-lhe atribuída a invenção da tabuada (apesar de já no império mesopotâmico existirem tábuas com registos de algo semelhante à tabuada de somas), do sistema númerico decimal e do teorema que tem o seu nome. O pitagorismo incluía homens e mulheres - caso excepcional na Grécia Antiga e constituia uma confraria moral em que se distinguia o pensamento dos sentidos, a alma do corpo e a forma matemática das coisas da sua aparência perceptível. Defendiam a teoria da transmigração das almas e viam o Cosmos como uma harmonia feita de proporções numéricas.
Ao tornar-se filósofo e investigar a verdade, Pitágoras acreditava que a sua alma cada vez se aproximaria mais dos deuses e se afastaria mais dos "desejos selvagens da carne". "E, se no final, deixando para trás o teu corpo tu chegas ao espaço livre superior, então tu serás imortal, divino e já não um mortal".

Foi Platão quem identificou a vantagem concreta de acreditar na reencarnação. Ele pensou que não teríamos medo de morrer se na altura da morte acreditássemos que a alma era meramente transferida para outro corpo. Esta filosofia iria servir Pitágoras ao longo de toda a sua vida. Pela sua lógica simples ele não temia a morte o que até lhe foi vantajoso dado que, por várias vezes, esteve a ponto de a encontrar. Um discípulo anotou: "... assim, só um homem de natureza cobarde não tem qualquer ligação com a verdadeira filosofia e um homem bem equilibrado, que não é mesquinho, nem avaro, nem jactancioso, nem cobarde, não será de trato difícil, nem injusto".

Pitágoras sai de Samos


Para um homem de talento como Pitágoras, não havia na Grécia dessa altura uma instituição de ensino superior capaz. As escolas de filosofia, que seriam fundadas por Platão e Aristóteles no século IV a.C. ainda não existiam, faziam parte do futuro. Não é de surpreender que Pitágoras rapidamente ficasse cansado das limitações dos debates sobre política, filosofia e matemática que ocorriam na Ágora.
O seu apetite pelo conhecimento levou-o a procurar novas fontes. A leste do mundo grego tínhamos um certo número de grandes impérios como a Pérsia, Babilónia e o Egipto. Havia muitos contactos entre estes impérios e ideias destas culturas passando de um lado para o outro, particularmanete para alguns estados orientais do mundo grego que tendiam a absorver algumas destas ideias. Ao mesmo tempo o comércio prosperava, em especial com o Egipto. Em Samos conseguiu-se atingir um bom nível de bem-estar e riqueza e aí podiam-se encontrar bastantes produtos egípcios.

Embora a instrução que Pitágoras recebera de Anaximandro e de Tales lhe tivesse proporcionado uma abordagem sólida da aprendizagem, havia muitas questões para que ele não tinha ainda resposta. A falta de oportunidades para mais educação em Samos forçou Pitágoras a viajar de forma a obter mais conhecimentos. Percorreu primeiro outras partes da Grécia, em seguida foi para a Ásia menor e, por último, instalou-se no Egipto onde permaneceria durante largos anos. O Egipto era uma das grandes potências do mundo, sede de grandes conhecimentos. Ainda sob o exótico governo dos faraós Pitágoras mergulhou a fundo na tarefa de conjugar a miríade de novas filosofias que adquirira e de estudar com os sacerdotes da antiga e cosmopolita cidade de Memphis. A matemática e a filosofia tinham sido a sua vida e não é difícil imaginar o encantamento que sentiu quando os seus olhos pousaram pela primeira vez na geometria inerente às pirâmides.


A filosofia


Na época de Pitágoras, os homens instruídos que afirmavam terem as respostas para vida e para o Universo eram conhecidos como sábios. Pitágoras opunha-se à ideia de qu o título "sábio" implicasse superioridade. Para ele, isso parecia-lhe imodesto e imerecido. Enriquecido pelos estudos sentia que o conhecimento e a verdade não tinham nada de oculto. Procurou um termo para explicar o que sentia, termo esse que sobreviveu até aos nossos dias. A nova palavra provinha de dois termos gregos "philos" (amante) e "sofia" (sabedoria ou verdade). E um filósofo era um amante da sabedoria e da verdade.

Através da obra de Pitágoras, foi entrando lentamente no espírito do homem comum a ideia de que a sabedoria não necessitava forçosamente de ser apanágio das pessoas instruídas. Também ele poderia procurar a verdade e adquirir sabedoria, poderia ter a mesma compreensão da vida que um sábio. Através da sua obra, Pitágoras tentou banir o elitismo.

Durante o tempo que passou no Egipto, Pitágoras sentia-se feliz, absorvido como estava nos seus estudos da Natureza, da Filosofia e das Matemáticas. Começou a transmitir aos outros os seus novos conhecimentos. Este foi um período crucial no desenvolvimento de Pitágoras e a tranquilidade e o luxo do reino dos faraós constituía um terreno fértil para o desenvolvimento da sua filosofia. Infelizmente, o Egipto estava a atravessar um período de transformações que causariam o seu declínio. A guerra e as invasões significavam que o reinado dos poderosos faraós chegara ao fim. A existência pacífica de Pitágoras iria sofrer um rude golpe. Para Pitágoras foi o ínicio de um período violento e instável da sua vida. O mundo à sua volta tornara-se mais perigoso. Juntamente com muitos dos grandes pensadores foi levado do Egipto para a Babilónia como prisioneiro tendo permanecido entre as grades por algum tempo. Mas, mesmo aí, os seus talentos destacavam-se e foi pressionado para ensinar ao povo da babilónia as suas descobertas.

Pitágoras manteve-se sempre optimista e com fé no poder de Deus. "Os males que a deusa fortuna dá ao homem, recebe-os docilmente. Não o lamentes. Mas cura-os na medida em que puderes. Lembra-te disto: o destino dá os males menores aos bons". Dizem que Pitágoras nunca se zangava, que isso ía contra a sua natureza, mas ele ansiava pela felicidade e estabilidade que havia encontrado no Egipto durante tanto tempo. Sentia um enorme desejo de criar uma comunidade onde as pessoas pudessem levar uma existência honesta e pacífica. Acreditava que era capaz de causar a mudança para uma vida mais tranquila e mais satisfatória através do ensinamento do seu modo de vida aos outros. Desejava deseperadamente concretizar os seus ideais. E, quando finalmente Pitágoras conseguiu sair da Babilónia e regressar a Samos, as suas ideias enchiam-no de entusiasmo. estava ansioso por encontrar um local para a sua comunidade. Uma vez mais teve que enfrentar o desapontamento e o desepero. A bela e abastada região da sua juventude que recordava com tanto carinho fora devastada pela corrupção, pela opressão e pela negligência. Pitágoras podia ver claramente que Samos não era local onde pudesse juntar seguidores e espalhar a verdade. A verdade era demasiadamente desanimadora.

O idealismo pitagórico - influências políticas e sociais


Em 530 a.C., quando tinha perto de 60 anos, Pitágoras desiludido abandonou Samos. Nunca mais regressaria à terra natal. Viajou para Crotona no continente italiano para escapar ao governo opressivo e seria aí que Pitágoras passaria o resto da sua vida, tentando ensinar a todos os que vinham procurá-lo a doutrina da Matemática, da Filosofia e da Natureza. Crotona era uma colónia grega e nessa época não era afectada pelas guerras. Pitágoras deu então início à tarefa gigantesca de esclarecer e ensinar ao povo de Crotona o seu modo de vida. E ao fazer esse povo ir de encontro ao uma existência melhor, como um dos seus discípulos haveria de escrever. "Mas coragem! Os homens são filhos dos deuses!". E, lentamente, começou a atrair mais e mais pessoas, tanto homens como mulheres, que partilhavam os seus pontos de vista e do seu desejo de uma mudança permanente da guerra para a estabilidade. E de vida em comunidade.

Pitágoras conheceu uma mulher de Crotona por quem se apaixonou e que desposou. Foi pai mas não se sabe ao certo quantos filhos teve. E, em Crotona, Pitágoras fundou uma comunidade que se tornaria a mãe de todas as escolas de Idealismo. Desenvolveu ideias que considerava importantes para a educação e que combinavam a ciência, a filosofia e a arte. Ensinava um modo de vida completo. A sua comunidade tornava-se cada dia mais bem sucedida. Viviam sob a lei da propriedade comum: partilhar equitativamente. Possuíam tudo e não possuíam nada. Não é difícil detectar aqui semelhanças com as teorias base do comunismo, do marxismo, da comuna hippie, dos kibutz e de tantos outros.

Pitágoras foi o pioneiro mas foi Platão que se assenhoriou desta ideia e a desenvolveu com grande entusiasmo. Mais de um século depois, seguindo as suas viagens para a Sicília e Sul de Itália, Platão envidaria grandes esforços para descobrir um exemplar da obra de Pitágoras. Era vitalmente importante para ele ter acesso a estas obras a fim de poder estudar profundamente as ideias de Pitágoras. Fora inspirado por um pequeno grupo de pessoas que encontrara em Itália e que tentavam viver de acordo com as regras dos Pitagóricos. Platão apelidou-os de "os homens sábios de Itália". Tendo lido as obras de Pitágoras, Platão proclamou que este era tão essencial para a filosofia como o lendário Prometeu o fora para a Humanidade ao fazer-lhe a dádiva do fogo.

O modo de viver e de ensinar dos Pitagóricos teve uma influência nítida em "A República" de Platão, a obra pela qual é mais conhecido. Em "A República", cada homem cria uma sociedade ordenada com base na igualdade, na educação e na harmonia. Inspirado por Pitágoras, Platão ficou imensamente entusiasmado com a ideia de aplicar teorias matemáticas à ética e ao planeamento social de forma a criar uma comunidade ideal, tão claramente desenhada na sua "A República".

Mas as ideias de Pitágoras não deixaram de encontrar oposição. Aristófanes, o autor grego do século V a.C., parodia a ideia de haver um agrupamento regido por uma lei comunitária nas sua peça "Assembleia de Mulheres": utiliza a sua personagem principal, Praxágora, como porta-voz para explicar a filosofia Pitagórica. "O que vos vou dizer é que devem ter um quinhão igual de tudo e viver disso. Não toleramos a existência de um homem rico enquanto outro vive na penúria, de um homem que lavra centenas de acres de terra enquanto outro não tem sítio onde ser sepultado, dum homem com dezenas de escravos enquanto outro não tem nenhum. Haverá um conjunto comum de necessidades para todos e estas serão divididas equitativamente. Em primeiro lugar declaro que toda a terra, todo o dinheiro e toda a propriedade privada serão propriedade comum". Da época de Pitágoras em diante, este sentimento tem estado na base de muitos ideais. Através dos tempos, pensadores e políticos, desde Marx a Mao procuraram e tentaram, sem sucesso, descobrir uma solução para a pobreza e para a desigualdade. Também Pitágoras se debateu com o problema de como alcançar a igualdade. Num mundo menos livre ele parece ter ido mais longe do que Estaline ou Castro alguma vez foram.

Pitágoras foi naturalmente aceite em Crotona. O seu estatuto político na cidade estava em ascensão mas este viria a ser o último período estável da sua vida. Pitágoras conjugou os conhecimentos e a energia que recolhera durante as suas viagens e criou as teorias que seriam utilizadas durante mais de dois mil anos após a sua morte, algo que lhe teria sido difícil imaginar. Todos pensavam que o mundo era plano sendo, obviamente, loucura assumir o contrário. A conclusão científica era a de que havia uma bola de fogo no centro da Terra, no ponto oposto ao que os humanos habitavam. Era por isso que nunca fora vista. Mas Pitágoras descobriu que a Terra gira em torno do Sol e não o contrário e que a Lua gira em torno da Terra. Começou a acalentar a teoria de que a Terra era, de facto, esférica. Procurava explicação para o facto de a duração dos dias mudar e das estações chegarem e partirem, mas nunca alcançou a verdade última. Não temos nenhuns dos escritos originais de Pitágoras mas temos que acreditar nas outras fontes sobre o que ele sabia e aquilo em que acreditava. As duas principais fontes sobre os livros e conhecimentos desse período são Platão e Aristóteles.

Foi, de facto, Platão, que tomando as ideias de Pitágoras desenvolveu a ideia de uma Terra esférica inclinando-se num eixo, o que explicava as alterações dos dias e das estações. Mas isto, conseguiu-o, com base nas obras de Pitágoras. Os planetas eram uma fonte de permanente encantamento para Pitágoras. Uma teoria desenvolvida por ele era que cada um dos 5 planetas que se sabia girarem em torno do sol emitiam uma nota ao percorrem o seu caminho. A intensidade dessa nota dependia da distância a que cada planeta individualmente se encontrasse do Sol e da velocidade a que fazia o seu percursso e era causada através da sua passagem pela camada superior ou "éter". Apelidou esta teoria de "Harmonia das Esferas" e deve ter reflectido longamente na beleza dessa música celestial que os terrenos estavam destinados a não ouvir nunca. Pitágoras chegara a esta teoria a partir de um paralelismo que traçara ao tocar lira. eparou que os diversos comprimentos das diferentes cordas do instrumento emitiam notas diferentes. O princípio era um simples paralelismo: os comprimentos das cordas eram relativos uns aos outros e, assim sendo, a música podia reduzir-se a uma equação matemática.

Os números e as formas


Podendo a matemática ser aplicada ao cosmos e à música, Pitágoras levou as suas teorias ao ponto de afirmar que tudo são números. A partir daqui foi desenvolvida a teoria dos opostos na qual Platão baseou a sua teoria das formas.
Os estudos matemáticos de Pitágoras deixaram uma relíquia notável, uma simples verdade com que toda a gente se cruzou e que lhe é atribuída: o teorema de Pitágoras. Até hoje, o quadrado da hipotenusa de um triângulo rectângulo é sempre igual à soma dos quadrados dos outros dois lados (x2=y2+z2). Aqui estava a Filosofia Natural na sua forma mais verdadeira. Entusiasmado com a sua grande descoberta, Pitágoras quis levar as suas teorias ainda mais longe. Estudou aquilo que apenas pode ser descrito como a primeira forma de pura geometria. Se pensarmos no teorema de Pitágoras que nos diz que, pegando nos dois lados de um triângulo rectângulo e os elevarmos ao quadrado teremos o valor da hipotenusa, do outro lado. Estamos, no fundo a falar de distâncias. E, se pensarmos num carpinteiro a trabalhar ou noutra situação qualquer não imaginamos ninguém a elevar uma distância a uma potência. Porque é que raio se há-de elevar uma distância ao quadrado? Se quisermos compreender um triângulo porquê elevar a distância ao quadrado? É uma coisa, no mínimo, peculiar para se pensar fazer. E nunca niguém o teria feito se não estivesse muito por dentro do que se passa com o triângulo. Até aí já se media a hipotenusa. Marcava-se uma grelha no triângulo que se desejava medir e depois, com base nas unidades dadas pela grelha, media-se a hipotenusa. O que Pitágoras trás de novo é a capacidade de abstracção do cálculo. Com o teorema de Pitágoras podemos ter a "exacta medida de Deus" da hipotenusa em qualquer situação: a exactidão do resultado é sempre perfeita e sempre assim será. Pitágoras descobriu o "modelo de Deus".

Tendo desenvolvido a teoria da harmonia das esferas ele foi capaz de combiná-la com a matemática avançada e chegar à conclusão de que o Cosmos é um todo matematicamente ordenado. A chave para o Universo é a ciência dos números. Actualmente, quantos de nós, utilizadores de computadores, poderíamos realmente discordar dele? Também aqui a influência de Pitágoras foi fenomenal. Galileu, o matemático e físico do Renascimento, pegou nesta ideia e servindo-se dela como base desenvolveu a sua teoria de que o livro da natureza está escrito em símbolos matemáticos. E isto dito por um homem que viveu milhares de anos antes da cisão do átomo. Pitágoras sempre soube que, no futuro, seria inventada uma linguagem constituída unicamente por símbolos matemáticos. A obra de Galileu constituiu uma das bases da física moderna. Infelizmente nem sempre para o bem da humanidade. Esta crença incrível de que se podem compreender coisas extremamente complicadas através dos números e formas começou a permear a mentalidade renascentista e, por volta de 1600, vêem-se uma série de acontecimentos simultâneos: Galileu a olhar pelo seu telescópio e a descobrir que eles não são como toda a gente espera, a fazer experiências com esferas a rolar em planos inclinados, no fundo a começar a experimentar a usar a matemática, a usar a geometria grega para perceber o que se passa no mundo.

Mesmo que Platão tivesse aderido entusiasticamente aos ensinamentos de Pitágoras é perigoso assumir que ele os tivesse conhecido naturalmente através do seu grande amigo e mestre Sócrates. Sócrates tinha plenos conhecimentos das ideias e filosofias de Pitágoras e de outros filósofos pré-socráticos e, no entanto, rebelava-se contra elas. Afirmava que eles estavam mais preocupados com a cosmologia do que com os homens seus irmãos e com a forma como estes deviam conduzir as suas vidas. Sócrates rejeitou todas as teorias de Pitágoras excepto a que dizia respeito à imortalidade da alma. Platão narra as palavras de Sócrates: "Pois bem, o nosso recente debate e os outros, provam conclusivamente que a alma é imortal". Mas é para um estudante de Platão que nos devemos virar para encontrarmos o testemunho mais abrangente e exacto da grandeza de Pitágoras, Aristóteles, o maior de todos os filósofos. Ele procurou explicar e reproduzir mais claramente as filosofias de Pitágoras e dos seus seguidores. Tinha o exemplar da obra de Pitágoras que pertencera a Platão e em que este se baseara e lançou-se à tarefa com prazer. Incapaz de se manter isento, os seus escritos são algo duvidosos. De qualquer forma é Aristóteles que esclarece melhor alguns aspectos do pitagorismo.

Sócrates, Platão e Aristóteles, todos eles recorreram a Pitágoras para desenvolver as sua próprias obras. Mas o aspecto mais importante relativamente a estes filósofos clássicos é que eles reconheceram Pitágoras como um erudito importante e um pioneiro no campo das diligências filosóficas e científicas humanas. Tal como é certo que ao dia sucede a noite, também a procura da paz está condenada ao fracasso. O pitagorismo iria acabar em caos. Os sibaritas, o povo da cidade de Sibaris, começaram a sentir-se ameaçados pela popularidade e pelo poder que Pitágoras adquirira nos 20 anos que passara em Crotona. Crotona e Sibaris eram duas cidades vizinhas do Sul de Itália e era característica desta época que tal resultasse em guerra e conflitualidade, em especial nesta zona da Itália. Na realidade não se sabe porque estas duas cidades em particular acabaram por entrar em conflito. De qualquer forma, aquilo que fora uma comunidade forte e satisfeita em Crotona viu-se subitamente invadida em 510 a.C. pelos sibaritas. Pitágoras deve ter sido levado ao desepero. Ao longo de 20 anos ele procurara ser capaz de proteger o seu povo contra o terrível destino que se abatera sobre a terra dos faraós mas os seus piores receios estavam a concretizar-se, o espectro da guerra tinha-o alcançado. Ele, e os seus sonhos, iriam ser destruídos.

A partir daqui a história não é clara e não se sabe bem o que aconteceu. A sua morte permanece um enigma. existem duas teorias. Alguns estudiosos defendem a ideia de que devido ao seu estado de espírito Pitágoras seguiu o padrão da juventude e quando os problemas surgiram fugiu para o metaponto e aí recomeçou a sua actividade. A ter sido assim não existem quaisquer registos de como e onde morreu. Outra sugestão, igualmente possível, é a de que Pitágoras permaneceu em Crotona depois da guerra e tentou reconstruir a sua estabilidade. Por esta altura seria um homem idoso e recomeçar em Crotona onde tinhas as suas bases teria sido mais simples do que noutra cidade. A ser isto verdade reforçaria a lenda que chegou até nós: após a guerra som Sibaris, um homem chamado Sílon começou a opôr-se ao lendário Pitágoras afirmando que a ordem pitagórica era contra a liberdade e livre arbítrio. Esta conflitualidade continuou até 504 a.C., ano em que um grupo de 500 pitagóricos entre os quais Pitágoras organizaram um encontro na casa de Milo. Alguns seguidores de Sílon lançaram fogo à casa tendo nele perecido praticamente todos os pitagóricos. Há uma corrente que sugere que Pitágoras fugiu em pânico e teria escapado ao fogo mas que teria sido capturado pelos responsáveis pelo fogo que o teriam morto imediatamente. Aqui estavam em causa duas formas distintas de vida: a vontade de liberdade e livre arbítrio por parte de muitos cidadãos e as noções de protecção, caridade, saúde e bem comum dos pitagóricos.

O pitagorismo durou cerca de meio século após a morte de Pitágoras mas nunca mais, depois da sua morte, voltou a gozar de uma força e vitalidade semelhantes. Dir-se-ia que Pitágoras era o pitagorismo. mesmo sendo um herói virtualmente esquecido na sociedade moderna Pitágoras contribuiu para todas as nossas vidas. A maioria de nós pouca consciência tem da importância do teorema que nos foi religiosamente ensinado na escola.

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